quarta-feira, 17 de outubro de 2012

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

Ártico registra recorde de degelo e aquece disputa internacional.

Ambientalistas pedem preservação enquanto empresas estão de olho no gás, óleo e minérios no Polo Norte

Quebra-gelo. Navio do Greenpeace no degelo do Oceano Ártico


OSLO - Sobrevoando o Oceano Ártico, a sensação era de estar diante de um espelho gigante, estilhaçado em milhões de pedacinhos. Em vez de vidro, placas de gelo quebradas, resquícios dos últimos dias de verão, refletiam de forma descontínua os raios de sol. Vistos do alto, de um helicóptero, os pedaços, já frágeis, ocupavam quilômetros de mar, mas, a cada minuto, ondas engoliam mais um trecho da cobertura branca. Diante dos nossos olhos, a geleira que cerca o Polo Norte se desfazia, materializando números que, no dia 27 de agosto, já haviam acionado o alarme sobre a situação. Este ano, foi registrado o recorde de derretimento da cobertura de gelo no oceano, desde que as medições começaram a ser feitas, em 1979. Era esse o motivo que levava à região uma expedição do Greenpeace. A bordo do navio Artic Sunrise, cientistas de diferentes partes do mundo, protestavam contra a exploração econômica do Ártico. Eles reivindicam a criação de uma área de proteção internacional.

O cenário é um exemplo vivo da elevação da temperatura da Terra, que se potencializa na região. O termômetro no local marca um aumento três vezes maior do que no resto do planeta. Cientistas alertam que o fenômeno é acelerado pela queima de combustíveis fósseis e que esse processo causará, cada vez mais, eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e secas.
Enquanto o Ártico derrete, aumentam, na mesma proporção, os interesses econômicos na região. E, aos olhos de empresas e das oito nações que têm assento no Conselho do Ártico, o problema apontado pelos ambientalistas traz oportunidades econômicas. É que o Ártico estoca 20% das reservas de petróleo e gás do mundo e vem se tornando a mais nova fronteira energética da atualidade. À medida que a camada de gelo derrete, mais fácil vai se tornando o acesso a essas riquezas ainda intocadas e novas rotas comerciais vão se abrindo para o mundo.

Nesse imbróglio, uma instituição está sendo alçada a uma importância inédita: o Conselho do Ártico, composto por Dinamarca, Suécia, Estados Unidos, Canadá, Noruega, Islândia, Finlândia e Rússia. São esses países que, juntos, têm o poder de estabelecer estratégias para a região nas áreas ambiental e econômica. A China está fora, mas está fazendo de tudo para ser incluída no conselho. Os chineses estão de olho grande na exploração de recursos locais e, especialmente, no encurtamento das distâncias para o comércio com a Europa, que, segundo estimativas, poderiam resultar em rotas comerciais cinco ou seis vezes mais curtas. O resultado sobre a candidatura da China só será divulgado em fevereiro de 2013, quando o conselho se reunirá para escolher os novos membros — ano, inclusive, em que as empresas Shell e a russa Gazprom prometem voltar com força total ao Polo Norte, já que ambas, este ano, adiaram seus planos de perfurar poços no Oceano Ártico. Atualmente, o conselho é presidido pela Suécia.

Não são apenas ambientalistas e empresários que estão em campos opostos. Textos do próprio conselho deixam claro que a estratégia de exploração e preservação do Ártico está baseada numa contradição intrínseca. Enquanto trechos do documento admitem que “a extração de petróleo e gás pela Rússia e a Noruega na região de Barents, nos últimos 15 anos, tem aberto fronteiras energéticas importantes”, em outros parágrafos se advoga que “o rápido aumento de temperatura potencializa a probabilidade de efeitos dramáticos sobre os ecossistemas do Ártico. Além de significar perdas de bens naturais insubstituíveis para os seres humanos, entre eles a caça e a pesca”.

— O paradoxo está presente o tempo todo nas ações dos países que possuem áreas no Ártico. Eles querem preservar o meio ambiente e as culturas de populações tradicionais, mas não abrem mão das riquezas obtidas a partir dos recursos naturais. O mesmo acontece para os povos locais, que querem manter seus empregos em indústrias de exploração, mas serão diretamente afetados pelas perdas ambientais na região. É uma dinâmica que não se altera de uma hora para outra — pontua Lena Breg, antropóloga alemã, que está fazendo seu PhD na Universidade de Oslo, com foco nas populações do Ártico, e que estava entre os tripulantes do Artic Sunrise.

Efeito Gaia

No dia 20 de setembro, enquanto a expedição do Greenpeace navegava em meio ao degelo no Oceano Ártico, o Centro Nacional de Informações sobre Neve e Gelo (NSIDC, sigla em inglês) da Universidade do Colorado e apoiado pela Nasa, anunciou que a cobertura havia atingido seu tamanho mínimo neste verão, registrando apenas 3,41 quilômetros quadrados de extensão. O número é 18% abaixo do registrado em 2007, ano do recorde anterior, e, numa comparação com o ponto mais alto de congelamento no inverno deste ano, significa o derretimento de quase 12 milhões de quilômetros quadrados de gelo.

— Se confrontarmos dados de satélite com o que estamos vendo, concluímos que há ainda menos gelo cobrindo o oceano. A imagem cala os céticos que dizem que o aquecimento global é apenas um processo natural. Atividades humanas são responsáveis por 60% do aumento das emissões de gases de efeito estufa desde 1979. Para evitar o desaparecimento do gelo, teríamos que reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis. Não é o que está acontecendo — avaliou a climatologista do NSIDC, Julienne Stroeve, uma das cientistas a bordo do Artic Sunrise, que, munida de instrumentos de medição, verificava in loco a redução não apenas do tamanho do gelo, como também de sua espessura.

Veterana em áreas geladas, Julienne — que já esteve na Groelândia e no Alasca pelo NSIDC — não escondia seu espanto ao observar a olho nu o que vem ocorrendo no Ártico:
— Se os satélites já anunciavam uma situação alarmante, a imagem das calotas polares desfeitas em milhares de pequenos e finos pedaços era ainda mais chocante.

A cientista acredita que a quantidade de nuvens e névoa na região pode ter alterado imagens registradas pelos satélites, fazendo com que a cobertura de gelo pareça maior do que realmente está nesse momento. A tese do físico inglês James Lovelock, que, nos anos 80, alertou o mundo para os primeiros sinais de que o excesso de emissões de gases de efeito estufa seria sentido no mundo todo, Julienne constatou, na sua última expedição ao Ártico, que a tese de Gaia é cada vez mais visível no Polo Norte. Além dela, estavam a bordo dois outros especialistas em gelo, ambos da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. O peso das malas da tropa científica no Artic Sunrise incluía, além de casacos e botas preparados para o frio polar, instrumentos de medição do tamanho e da espessura das placas de gelo, que tinham ainda a capacidade de calcular o impacto do movimento das ondas sobre a cobertura gelada.

Resfriador da Terra

A expedição do Greenpeace havia passado dos 83 graus a Norte de latitude, e a cobertura branca ainda era escassa. Afinal, o que teria acontecido com as placas de gelo permanentes que aparecem em nossos mapas-múndi? Durante cinco dias navegando da cidade norueguesa de Tromso em direção do Polo Norte, os cientistas atingiram a área em degelo no último dia 10 de setembro — a expedição teve início no dia 5. O cenário visto pelas pequenas escotilhas do Artic Sunrise e mesmo da cabine do comandante era a um só tempo inóspita, estonteante e aterradora:

— O que vocês estão presenciando é um dos maiores desastres do planeta — esclarece, por email, o pesquisador Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, um dos maiores especialistas em gelo do mundo.

É dele a projeção de que o gelo do Ártico desapareceria entre os anos de 2015 e 2016. Seu diagnóstico data de 2007, só que seus próprios colegas de academia chegaram a considerar que Wadhams havia exagerado nas suas estimativas. À época, o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) considerou o cenário alarmista, projetando o degelo para 2050. Mas cientistas do mundo inteiro estão revendo suas previsões, encurtando o tempo restante até que os verões no Ártico não tenham mais gelo na paisagem. Eles estão de olho em dados que já comprovam que, desde 1979, o Ártico perdeu 50% de sua cobertura.

— O gelo deverá desaparecer até 2016. Empresas veem isso como um bom negócio, porque haverá mais acesso à extração de petróleo na área de oceano aberto e mais facilidade de navegação. Por outro lado, o oceano descoberto absorverá mais calor, o que vai acelerar cada vez mais a própria causa do problema, o aquecimento global — diagnostica Wadhams.

O pesquisador já esteve no Ártico várias vezes, para observar a espessura do gelo durante os períodos de congelamento, no inverno, e de derretimento, no verão. Só que, desta vez, o professor acompanhava as notícias da expedição à distância. No seu lugar, Wadhams mandou Nick Toberg. Os dois conduzem uma pesquisa sobre a região, que aponta que o Ártico reflete 70% dos raios de sol que alcançam placas de gelo. Se a cobertura desaparecer, o oceano absorverá tudo, esquentando o planeta numa velocidade equivalente a 20 anos de atividades humanas emitindo gases de efeito estufa.
Além da absorção de mais calor pelo oceano, o degelo faz com que o permafrost (solo composto por terra, gelo e rochas congelados) se desfaça, enviando à atmosfera grandes quantidades de metano, um dos gases mais nocivos do efeito estufa. Tudo isso afeta a manutenção do Ártico, ou “refrigerador da Terra”, como é chamado.

— Os dias que estamos passando em meio ao degelo no Ártico estão sendo chocantes. É preciso que a exploração de gás e petróleo no Ártico seja suspensa de vez. As consequências das emissões e de um possível derramamento aqui são terríveis — conclui a londrina Sara Ayech, que soube, em alto-mar, que a Shell havia suspendido temporariamente as explorações na região. A Gazprom foi a empresa a abandonar as operações no local.








sábado, 13 de outubro de 2012

Até a próxima, Rainbow Warrior

Santos encerra a primeira expedição do navio Rainbow Warrior no Brasil

O navio Rainbow Warrior navega na Baía de Guanabara.

Foi com chave de ouro que a visitação do público ao Rainbow Warrior na cidade de Santos (SP) encerrou a expedição do mais novo navio do Greenpeace no Brasil. Cerca de 3.500 pessoas tiveram a oportunidade de conhecer a embarcação, atracado no maior porto da América Latina.

Durante a visita, o público teve a oportunidade de participar das campanhas do Greenpeace em proteção ao meio ambiente, como a do Desmatamento Zero. Nos mais de três meses de expedição do Rainbow Warrior pelo Brasil, cerca de 20 mil pessoas assinaram a petição presencialmente. Somando-se às assinaturas online, mais de 370 mil brasileiros pedem uma nova lei para proteger as florestas.

Outro destaque do evento foram as energias renováveis. Grande estrela da Cúpula dos Povos, no Rio, o fogão solar também fez sucesso entre as famílias que visitaram o navio em Santos.

De norte a sul do Brasil

Nesta segunda-feira, 2 de julho, a tripulação do Rainbow Warrior se despediu do Brasil com destino à Argentina. Em comemoração aos 20 anos do Greenpeace no Brasil, o navio passou por Manaus, Santarém, Macapá, Belém, São Luís, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos. Veja abaixo uma breve retrospectiva das principais paradas:

Manaus

Em Manaus, foi lançada a campanha pela lei do Desmatamento Zero. O Rainbow Warrior ajudou a alcançar e mobilizar várias comunidades que vivem da riqueza da floresta, que se juntaram pela campanha.

Santarém

Além da divulgação da campanha do Desmatamento Zero, o Guerreiro do Arco-Íris ajudou o Greenpeace a denunciar as agressões à floresta Amazônica. Em Santarém foi feita a denúncia de uma madeireira ilegal operando em um assentamento do Incra. O navio também recebeu um debate entre organizações e lideranças comunitárias sobre a estrada BR-163 e seus efeitos no desmatamento da floresta.

Porto de Moz

O Rainbow Warrior foi o ponto de encontro de uma assembléia flutuante com representantes de comunidades extrativistas da região. A flotilha foi crucial para continuar a mobilização pela regularização fundiária da Reserva Extrativista Verde para Sempre.

Gurupá

Outra denúncia feita com a ajuda do navio foi a entrega de uma amostra de madeira coletada em uma área quilombola em Gurupá à Procuradoria Federal em Belém. O acontecimento foi o ponto de partida de um debate sobre o atual papel da exploração madeireira no desmatamento e na degradação ambiental. O evento envolveu o Ministério Público Federal, madeireiros e instituições não-governamentais.

Macapá

Já em Macapá, capital do Estado que tem 95% da sua área de florestas preservada, o governador Carlos Camilo Capiberibe fez questão de declarar seu apoio ao Desmatamento Zero. Próximo à cidade, o navio chegou à comunidade de Bailique para registrar o exemplo da Amazônia que dá certo.

Belém

Na capital paraense, a petição ganhou apoio estratégico das instituições públicas regionais. Já o público que visitou o Rainbow Warrior também fez bonito e apoiou em peso a petição. Foram mais de 1.300 assinaturas.

São Luís

Em São Luís do Maranhão, o navio estreou sua primeira ação – o bloqueio do navio Clipper Hope, prestes a fazer um carregamento de ferro gusa, matéria-prima do aço cuja cadeia produtiva envolve desmatamento ilegal, invasão de terras indígenas e trabalho escravo. Os protestos terminaram com um avanço: as autoridades e os produtores da região se dispuseram a entrar em um acordo para regularizar a cadeia produtiva do material.

Recife

Já navegando pela costa brasileira, o Rainbow Warrior estreou em Recife a campanha pelo uso de matrizes renováveis como solar, eólica e biomassa. Em evento a bordo do navio, o governo do Estado se comprometeu a fazer investimentos em energias renováveis para atrair novas empresas de TI (Tecnologias da Informação). Com o lançamento do relatório Horizonte Renovável, o Greenpeace mostrou que o Brasil possui um pré-sol e um pré-vento de oportunidades para gerar energia limpa.

Salvador

Muita gente veio conferir de perto o Rainbow Warrior na capital baiana. O Greenpeace recebeu até a visita contagiante do músico Carlinhos Brown, que animou a tripulação. Nesta parada, também foi organizado um seminário sobre potencial das energias renováveis.

Rio de Janeiro

Aportando na cidade maravilhosa para a Rio+20, o Rainbow Warrior foi palco de discussões sobre como formar um polo verde de TI na capital fluminense e de protesto de índios Xavante que há 20 anos aguardam a desocupação de suas terras por fazendeiros. Durante a conferência da ONU, o Greenpeace se juntou à sociedade civil na Cúpula dos Povos, realizando discussões sobre desmatamento, mudanças climáticas e energias renováveis. Nas ruas, participamos de uma marcha para mostrar o “verdadeiro futuro de queremos” para os líderes mundiais.





quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Desmatamento volta a subir




A tendência de queda do desmatamento na Amazônia vem perdendo força nos últimos meses. Em agosto, segundo o sistema de alerta do Inpe, pelo menos 522 km² de floresta foram derrubados, mais de 200% em relação ao mesmo mês no ano anterior. Em setembro, o aumento continuou: com cerca de 282 km² desmatados, a curva subiu 11% se compararmos com o ano passado.
O mês de agosto é quando começa o cálculo do desmatamento anual pelo Sistema Prodes, também do Inpe. Os dois primeiros meses da conta, portanto, já chegaram com números ruins. E essa época, quando a seca chega na Amazônia, é justamente o período em que as motosserras começam a cantar com mais força.
É para combater esse cenário que estamos na campanha pela lei de iniciativa popular do desmatamento zero. Precisamos de 1,4 milhão de assinaturas para encaminhar o projeto ao Congresso. Em poucos meses, mais de 566 mil brasileiros já aderiram. E você? Participe, assine e compartilhe!


Esconde-esconde em usinas nucleares suecas

    Ativistas do Greenpeace entram na planta nuclear de Forsmark, na Suécia, para demonstrar a falta de segurança das usinas no país (©Greenpeace)


Mais de 70 ativistas do Greenpeace entraram nas usinas nucleares de Ringhals e Forsmark, na Suécia, para provar a vulnerabilidade da segurança das mesmas e para pedir para a Ministra do Meio Ambiente da Suécia, Lena Ek, que ordene o fechamento dos perigosos reatores nucleares no país.
Quase todos os ativistas foram presos, mas quatro conseguiram permanecer escondidos em Ringhals e outros três em Forsmark, apesar da Vattenfall, uma das empresas operadoras das usinas, afirmar que o trabalho de segurança funcionou perfeitamente.
Hoje cedo, Isadora Wrosnki, da Campanha de Energia do Greenpeace Suécia, revelou que ainda estava no telhado de Ringhals, 28 horas após a entrada na usina. Depois disso, houve uma busca intensa para encontrar os ativistas escondidos. 
“O teste de segurança que simulamos provou que as plantas nucleares suecas são inseguras. Elas são um risco para o público, não apenas para as pessoas que vivem próximo à elas, mas para toda a região nórdica”, disse Wronski antes de deixar a planta de Ringhals. “Peço urgentemente que a Ministra do Meio Ambiente feche essas usinas”.
Na semana passada, a Comissão Europeia publicou um documento sobre os testes de estresse realizados pelos operadores e reguladores nas plantas nucleares europeias, revelando sérios problemas de segurança.
Ringhals, em particular, foi muito criticada por suas falhas de segurança e por um relatório publicado por Oda Becker, pesquisadora independente de energia nuclear concluiu que as plantas nucleares suecas deveriam ser fechadas por problemas de segurança.
O protesto forçou Lena Ek, que até então não havia se pronunciado sobre o assunto, a convocar uma reunião com os operadores das plantas, E.On e Vattenfall, e exigir explicações pelas falhas de segurança.  
Martina Krueger, da Campanha do Greenpeace Nórdico, afirmou que "uma vez que as operadoras claramente não atendem aos padrões de segurança necessárias, a Ministra do Meio Ambiente deveria fechar as usinas no país".